sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ao fim de maio




Bem no final de maio no mês em que nos casamos me lembro de como estava lindo lá de pé no altar a me esperar. Foi o dia mais feliz da minha vida, sonho e realidade misturado a toda lágrima que queria saltar dos meus olhos contra toda minha imperiosa vaidade. Era amor o que vi em seus olhos, era certeza, era a promessa de uma vida inteira compartilhada de mãos dadas, com pedras, vales ou montanhas eu sabia. Você seria a constante na paisagem e na passagem dos meus dias. Seriamos nós e não mais eu e você. Quem sabe um nós com mais de dois, quem sabe um nós com choro em soprano no quarto ao lado de bochechas rosadas e seus olhos.
No final de maio sempre me lembro de como perdi você, não pra uma outra mulher, não para o cansaço dos dias, não para um motivo fútil como uma briga pelas toalhas molhadas atiradas na cama ou as roupas espalhadas por qualquer lugar. Perdi você por mim, perdi por não ter paciência e não querer te entender quando lentamente tentava me explicar. Quando não li a mágoa que lhe causava a cada acusação. Pelo egoísmo de me por em primeiro lugar. Por exigir, por Deus que fosse mais parecido comigo. Que estupidez! Não são nas dificuldades e nas diferenças que aprendemos a crescer, mudar e moldar o caráter?
No final de maio, onde tudo muda, onde a dor aperta e o vazio grita eu choro sozinha. Por que sei que te feri, como jamais se deveria ferir quem lhe ama tão abandonadamente como você fez. Tão entregue que jamais entendeu onde e porque em todas as suas tentativas errara tanto a ponto de não ser aceito. Dói ver o sangue nas minhas mãos da morte da nossa relação. Devasta-me ouvir nosso filho perguntar por você. E toda vez e ao olhá-lo te ver, tão refletido e inocente como quando nos conhecemos, toda a pureza que eu deturpei, te moldei e transformei em algo que eu não queria mais, em algo que jamais fora.
No final de maio tenho que te encontrar pela última vez e perguntar se está tudo bem. Será formal como entre dois desconhecidos, e não como duas pessoas que se amaram tanto e construíram uma vida juntos. Uma vida que durou pouco. Onde estava a certeza de que o nosso amor duraria tanto quanto o dos meus pais? Por que só três anos parecem tão longos e cansados quanto os 60 que vi meus avós viverem. Porque a sociedade nos ensina a caminhar rápido demais e a queimar rápido as evidencias e os vestígios do verdadeiro amor. Porque não nos relembra que é em fogo brando e não num incêndio que se vive e aquece um lar. É com braços de abraços bem apertados e pedidos sinceros de perdão é ter tempo para uma longa conversa e não economiza-lo para desperdiçar tudo em gritos e poucos porém graves, permanentes e profundos insultos.
No final de maio estou aqui diante de você na data que escolheu para dizer adeus tragicamente na mesma data em que antes felizes escolhemos pra dizer o sim. Vamos trocar palavras educadas, assinar papeis, apertar as mãos nos olhar pela última vez e virar as costas. Dizendo falsamente um para o outro: Está tudo bem, seja feliz você também!

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