quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Estrangeiros num mesmo país




Num dia comum de terça, onde todos trabalham e correm de lá pra cá sem notar a paisagem do dia e sua passagem, o colorido que muda indo do azul a turquesa e de turquesa a laranja róseo, até um azul enegrecido pela noite. E é agora nesta hora em que todas essas cores se despedem do dia e uma bola amarelo alaranjada desce ao mar espalhando o liquido dourado pela mar e mergulhando profundamente na escuridão que a lente precisa capta toda a beleza desse mágico crepúsculo. Uma lágrima escorre ao ver o sol descer, fecha os olhos e se lembra de olhos igualmente dourados do qual jamais conseguiria esquecer toda vez que visse um por do sol, mesmo num dia comum como esse.
Ela quase uma desconhecida entrara na sua vida por acidente, num país latino, numa festa, numa música, numa dança, sem palavras, além das trocadas pelos corpos de ambos ao movimento da canção. Enigmáticos olhos dourados e a pele negra em contraste com a sua alva quase rosa. Completamente absorvido pelos lábios cheios e bem desenhados dela, o olhar poderoso e ingênuo ao mesmo tempo o inebriavam. Foi inevitável que antes da primeira palavra proferida os lábios se tocasem, num beijo avassalador para ambos, o não-verbal já havia dito o bastante.
- Te quero! – disse ele em espanhol foi a primeira coisa que lhe falou, não era sua língua, não era a dela, mas ambos compreendiam.
E na primeira conversa se descobriram estrangeiros em um mesmo país, descobriram mal se entender, entre línguas distantes encontrar uma em comum. Inglês, espanhol, russo, português. Ok! Inglês serviria, depois, bem depois. Online em todas as conversas encontraram mais que química, mais que abraços, beijos e fogo. Descobriram vidas cruzadas, personalidades incríveis e um desejo imenso de se aproximar, de ficar junto, de querer bem mais que o toque íntimo. De começar de novo, do principio com um simples e inocente:
“- Oi? Como vai? Muito prazer!”
Mas o que fariam pra se encontrar? Como mudar a ordem dos acontecimentos. Ela estava lá e ele ali, há uns dois países de distância, mesmo continente, ele ainda a passeio, ela em casa. E se ela dissesse sim... Se dissesse: “Pode vir, te espero, te aguardo”. Tudo poderia mudar, ele poderia lhe mostrar seu melhor lado, lhe apresentar sua real vida. Andara tão só por tanto tempo que doía ser comparado a todo clichê de aventureiro conquistador. Ele queria alguém para amar, não só para um tempo juntos, queria o “pra sempre”. Sim, fora atraído pelo desejo. Sim, seguira um impulso primitivo, mas era mais que isso agora. E como provar? Como ser o cordeiro depois de ter sido o lobo? Como mostrar que sabia como degustar se já a tinha devorado? Como mostrar que queria uma chance pra ser mais, sendo menos.
Em uma simples palavra tudo estaria mudado. Sim! E logo a mochila estaria de volta as costas e as passagens compradas. Seria apenas uma palavra: Não! E tudo não passaria de uma boa lembrança de uma viagem inesquecível. Esperava na tela branca as palavras que mudariam sua rota e suas esperanças de vê-la novamente. Caso ela dissesse não ele estaria muito mais longe, ele voltaria ao seu país de origem e um continente os separaria. A conexão caiu enquanto ela dava a resposta que os uniria de novo a uma nova aventura: Sim! Infelizmente ele não viu e partiu pra casa.
A linha tênue que separa coincidência de destino os separou pra por milagre novamente os juntar em um outro pais seis meses mais tarde. Nem o lugar dela, nem o lugar dele. Outra vez ambos de passagem e por acidente na 5ª Avenida em Manhatan se cruzaram. Ela hospedada na casa de uma amiga e ele na casa de um primo e agora se esbarravam num café.
Olhos dourados fitavam o mar azul escuro dos olhos dele. O reconhecimento foi mútuo, porém a reação foi diferente da primeira vez. A tensão percorria cada poro de cada corpo. No entanto a dúvida: O que teria ocorrido na vida dela e na dele? A pergunta ecoava na cabeça de ambos. Teriam alguém? Isso realmente importava quando havia tanta comoção naqueles olhos que se refletiam quentes e vivos um pro outro? Apesar disso a inércia lhes paralisava braços e pernas, nada funcionava, impedidos pelo medo de se moverem um para o outro. Então as palavras cortaram a distância:
- Oi! Como vai? – disse ela “ Porque não veio me encontrar há seis meses?”
- Bem obrigado! E você? “Tão linda como me lembrava, porque não me disse sim?”
- Que bom! Estou aqui a passeio por poucos dias e você? “Obviamente, já deve ter outra e mal se lembra de onde me conhece.”
- Também, casamento do meu primo. “Eu quero você”
- Dê os parabéns a ele! E aproveite a viagem! “Eu queria você”
E em poucos segundos ela escaparia de sua vista e nenhuma palavra sã sairia de sua boca. Quem sabe quanto tempo isso duraria? A eternidade talvez. Coincidência não existe, era destino. Ele precisava se mover não importava o risco, valeria a pena até o não, ao invés da tortura de não ter tentado. Saiu porta afora atrás dela que já ia entrar num táxi. Ele tirou a mão dela da porta e a bateu com força a puxando pra si e a beijando como na primeira vez, mas não só enlouquecido de desejo, mas de um amor guardado, desesperado, com medo de ser novamente perdido pelo tempo, mapas e espaço. Precisava dela na sua vida pra sempre. Como mudaria a história? Quem era ele afinal? Apenas uma cara que ela conheceu nas férias de verão. Nada mais sério que um flerte e uma dança. Só isso! Porque pra ele fora tão mais?
Ela não tinha mais pernas, fôlego, forças, a cabeça leve. Em seus braços esquecera os meses e o juízo. Fora o melhor beijo da sua vida há seis meses e ainda o era ali e agora em outro pais desconhecido naqueles conhecidos lábios. Mas agüentaria imaginá-lo pelo mundo com tantas outras outra vez? Já uma mulher crescida criar falsas esperanças em um cara que está novamente a passeio querendo gastar melhor seu tempo com uma velha conquista?
- Preciso voltar, foi bom te ver! E... isso foi há seis meses e ninguém deve nada a ninguém, certo? “Eu ainda quero você”
- Certo. Mas eu precisava ter certeza de que era só isso mesmo. “Tão difícil de enxergar o óbvio.”
- Você está ótimo! Foi um prazer te rever. Eu vou indo.
- Fica! Vem comigo? – ele ainda segurava sua mão a impedindo de se mover em outra direção.
- Mas eu mal te conheço.
- Me teste, me experimente, tente me conhecer, mas fica! Não vai doer.
- São milhas de distância que não devem ser negligenciadas.
- É só geografia e matemática.
- Precisa-se de um bom motivo.
- ‘Te quero!’- disse em espanhol - Serve? – disse a puxando pela cintura com força.
- Si! – disse ela sorrindo e se jogando em seus braços.

1 comentários:

Anônimo disse...

Muito bacana! ^_^

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