segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cinco segundos


Minha vida mudou muito nesses úlitimos dois anos, amei, fui correspondida pela metade, perdi esse amor, me perdi em meio a dor, sofri, e perdi pra morte o meu maior amor, meu pai, tudo junto misturado e sem intervalo, surtei juntei duas amigas no surto e viajei pra Argentina, precisava de um lugar pra ficar só me conhecer me reencontrar, muita coisa boa aconteceu lá.

Agora to de volta a minha casa, to nesse corpo que sempre foi meu, nesse rosto que sempre foi meu, mas que eu nunca havia notado. To nessa vida que sempre tive e nunca dei muito crédito, mas tenho esses olhos que antes achava que enxergava, mas só agora é que realmente enxergo. Quem eu sou de verdade, e não tem nada a ver com aquela casca oca e opaca que andava por aí. Descobri o que era aquele grito preso dentro de mim, era eu, louca pra fugir, escapar daquela cela que me enfiei, com todos aqueles medos, e receios.

Olhei antigas fotos. É engraçado, ver algumas fotografias. Eu sei que nas fotos sempre dá pra fazer pose e por cinco segundos esquecer que sua vida tá uma merda, a menos que tenha um olhar transparente e sua pokerface nunca apareça pra te salvar, vc finge por aqueles 5 segundos que tá tudo bem. Tá... tá... mas nem sempre é assim. Eu ainda não sei explicar porque agente aumenta até a décima potência nossos bad moments e nos esquecemos fácilmente dos bons, se colecionássemos boas coisas, as ruins ficariam tão menores, tão ínfimas. Nas fotos me recordei de momentos em que eu não estava fingindo felicidade, eu estava feliz, só que eu encaixotava essa felicidade nos cinco segundos e a mantinha ali, como se isso fosse a excessão da minha vida e não a regra.

Em Buenos Aires, tomei chá de verdades, tive dr's, desentendimentos com affair e até bodes, mas foram eles a parar nos cinco segundos da caixinha. eu não sei se os ares de Buenos Aires mudaram de vez o curso do meu vento mais eu gostei. Gostei de manter sempre o que é bom, pelo máximo de tempo possível. Tá chovendo, se molhe, se lave, corra e dance na chuva feito criança e daí que você pode pegar um resfriado? Vitamina C existe pra isso. E daí que tá frio, tá agente reclama, mas põe o casaco.

Vá ser feliz por mais de cinco segundos, transborde sua caixa a faça ser maior que você, deixe ela fazer sombra sobre seus medos, os deixe pequenos e seja grande. Abuse dos seus sonhos, você pode acordar com eles sendo sua realidade.

Eu nunca mais conseguirei me ver como me via antes, porque sou outra, sou aquela que se libertou da caixinha de tempo e espaços curtos. Deixei de ser bonsai pra ser árvore frondosa, pra abrigar quem quiser e precisar.

sábado, 20 de novembro de 2010

Gracías



Minha vida costumava ser, olhos fitos ao chão, sendo sempre o trem de pouso, sonhando em ter asas nas costas, olhando as asas dos que vão adiante de mim e admirando seus belos vôos. Às vezes os impulsionando a ir mais alto e mais longe do que eu jamais poderia ir ou alcançar.
Mas, satisfeita de ver sonhos se tornando reais, fechava os olhos e por um momento acreditava que um dia quem sabe aconteceria.
Meus olhos no chão admiravam as pedras frias e o chão cinza da estrada, nada mudava, era sempre o mesmo, tendo a cautela de não tropeçar seguia só, cinza e calma.
Os meus olhos ao chão reparavam como meus pés eram feios e magros, minhas pernas finas, da caminhada só, sempre só, sempre tão eu sem nada demais.
Até que essa caminhada me cansou e surtei, peguei o primeiro vôo que encontrei pra fora daqui, pra fora de mim, não acreditando que fosse mudar, mas torcendo pra que acontecesse... E aconteceu, novos olhos, um novo horizonte, um novo lugar.
Me peguei dançando com meus pés feios em braços lindos, me peguei com meus pés correndo na chuva feliz da vida por estar encharcada de felicidade.
Me peguei vivendo e acontecendo, fazendo da estrada onde passava, não mais um caminho, mas minha passarela.
Me peguei andando pela rua e vendo a vista e não mais o chão, parei de fitar os pés que eu julgava feios e então fui pega por belos lábios que os beijaram e me mostraram o quanto eu era linda.
E começou aos poucos, um novo lugar nascer dentro de mim, ou talvez tenha sido um bocejo do despertar de alguém adormecido há anos, pra ver a vida e ser vista por ela.
Era ela, e era bela e era eu, eu mesma se apresentando na missão de simplesmente viver!

Ps.:Graças aos ares de Buenos Aires.

Gracías, Buenos Aires, por seu carinho, sua história e seus personagens.
Gracías por fazer de mim a protagonista de minha história pela primeira vez.
Ah... claro! Gracías chicos latinos, cheirosos e lindos de morrer, por me acharem linda, me tratarem como uma rainha, fazendo com que eu me veja melhor através de seus belos olhos verdes, azuis, negros, castanhos, amarelos... hummm. Não, amarelos é de outro departamento e desses olhos falo mais tarde.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Faz muito tempo que não posto nada e como já me conhecem sabem que sou desorganizada. Então, enquanto não chega novidades sobre Buenos Aires e minha viagem maravilhosa, pra fora do pais e pra dentro de mim. Deixo pra vocês um texto de uma amiga minha que tem muito a ver com o meu momento atual:

Alice tinha a vida tranqüila, sem grandes acontecimentos ou novidades. Sua rotina jamais era alterada. Todos os dias acordava às 6:20h, alimentava o gato após tomar banho e tomava seu café da manhã assistindo o noticiário. Era completamente alheia ao burburinho de pessoas entrando e saindo dos vagões entre as estações de Inhaúma e Catete do Metrô. Trabalhava num escritório de contabilidade e escondia-se atrás de pilhas e pilhas de documentos de uma grande cliente. Nas reuniões sociais, ela estava sempre num canto, quieta, observando as pessoas enquanto ninguém a observava. Um dia Alice não foi trabalhar, o que se repetiu nos cinco dias seguintes. A quantidade de documentos acumulados em sua mesa era absurda. O gato já havia fugido para o apartamento do vizinho. Na semana seguinte, Alice também não apareceu. Algumas pessoas já sentiam sua ausência, na verdade, elas ficavam incomodadas com tantos papeis na mesa dela. Quinze dias após seu “sumiço”, Alice reapareceu. Bem vestida, usava óculos e roupas de grife. Entregou um envelope ao seu chefe e saiu sem dizer uma palavra. Era uma carta de demissão diferente de qualquer outra lida por ele, dizia:

Cansei de ser uma geladeira. Não quero mais ser aquela de quem as pessoas só valorizam quando não estão mais perto. Quero ser valorizada a todo instante, ainda que seja tímida, ainda que seja quieta, ainda que seja eu mesma. Quero ser valorizada enquanto vivo, enquanto sinto, enquanto ouço e vejo o que está a minha volta. Estou me demitindo da função de contadora e da vida medíocre que aceitei por tanto tempo. Deixo de ser geladeira para ser água: essencial!